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segunda-feira, abril 30, 2007

AINDA SOBRE A FUNÇÃO (OU A CULPA) DO PROFESSOR

Extraí esse texto do site http://www.reescrevendoaeducacao.com.br/, escrito pela Profa. Rejane (?) - Fórum de discussão sobre o artigo de Gustavo Iochpe (Economista da Educação), cujo tema é o Analfabetismo Funcional.
Logo após o texto da Profa. Rejane, inseri as minhas considerações a respeito.
Enviada por Rejane: Seg Abr 10, 2006 7:05 pm Assunto: É fácil falar...
"Aposto que o autor nunca deu aula em escola pública. Primeiro gostaria de dizer que sou professora há 20 anos, tenho pós-graduação e no momento sou mestranda. Continuo dando aulas, porque gosto e este ano fiz questão de lecionar para a 5ª série. Me sinto na obrigação de concordar com o autor quando diz que o fracasso escolar não é culpa da família, nem do aluno. Concordo também que falta preparo para muitos professores, mas daí afirmar que a culpa é do próprio coitado que, a meu ver, é mais uma vítima da má formação de épocas passadas (aquela que dizem que a escola tinha melhor qualidade). Não! Não posso admitir isso e começo a fazer algumas perguntas ao autor:
- Por que será que tenho uma média de 45 alunos em cada classe?
- Como fazer para avaliá-los com qualidade, se não consigo nem olhar no rosto de cada um em 45 minutos (só para fazer chamada são 5 min.)
- Por que será que uma vez por mês deixo de dar uma aula e meus colegas também, para que os alunos possam pegar o seu leite?
- Por que será que leite, uniforme, calçado, têm que ser entregues na escola? Será que isso não é da competência do setor de bem estar social?
- Por que será que os alunos, na mesma hora que recebem o material, já rasgam todos os cadernos ou levam embora e nunca mais trazem de volta?
- Por que será que quando encaminhamos um aluno para acompanhamento de um especialista da área da saúde, isso não acontece?
- Por que será que passei meu sábado inteiro (das 9:00 às 20:00 h) corrigindo atividades, respondendo perguntas, anotando quem eram os alunos com maior dificuldade para eu tentar algo diferente 2ª feira, se eu sou professora e culpada?
- Por que será que tem aluno que temos até receio de chamar os responsáveis para comunicar a agressividade, pois sabemos que o filho será espancado na frente de quem estiver perto, como acontecido outras vezes?
- Por que será que eu ganho tão bem "R$ 1.469,00" e não consigo pagar minhas contas e me sustentar sem a ajuda de meu marido? Também não consigo comprar muitos livros... Realmente o professor que não é casado é culpado mesmo, onde já se viu ter que pegar outras aulas para poder viver... Que coisa feia, devia passar necessidade, mas com certeza teria tempo de preparar boas aulas!!!!
- E por que será... e também... Ah! Falar é fácil! Não sou cega, nem surda, nem deficiente mental, para perceber que tem gente que se aproveita sim do discurso anti-neoliberal. Mas daí culpabilizar somente o professor, isso é demais. Quantas pessoas estão envolvidas na educação de uma criança? E de um adulto (lembrei de mais uma coisa: em uma das salas que dou aula à noite, para adultos, não tem todas as luminárias (total de 6) só tem duas, mas eu nunca deixei de dar aula por causa disso, praticamente no escuro. E o autor ainda acha que não temos de falar de conscientização. Olha tem tanta coisa para falar que eu gostaria mesmo é de encontrar pessoalmente este "rapaz" para fazermos, quem sabe, um laboratório com ele!!!! Espero que não tenha digitado nada errado, caso contrário ele dirá, "tá vendo, nem sabe escrever"! Rejane


Enviada por Silvana M. Moreli: Sáb Mai 20, 2006 6:32 pm Assunto: Analfabetismo funcional

"Lendo o "desabafo" da Profa. Rejane, postado em 10 de abril de 2006, fiquei impressionada com o grau de identificação que tive com a referida mensagem. É impressionante como compartilhamos da mesma problemática. Apesar de estar há pouco tempo na escola pública, vejo que os problemas são inerentes a todas, em maior ou menor grau, mas estão lá. Ao analisarmos o tema "Educação", devemos tomar muito cuidado devido a amplitude do mesmo. O tema, por si só, evoca várias inferências, assim, podemos abrangê-lo de forma generalista, enfocando o todo da questão ou, de forma mais específica, optando por alguns aspectos a serem avaliados. No entanto, torna-se mister colocar de forma clara e precisa que tudo o que se fala/faz sobre Educação ainda é insuficiente e ineficaz. Muito se debate, muito se fala a respeito, muitos estudos são realizados com bases em estatísticas ou em projetos desenvolvidos em outros países e muito pouco ou nada se aproveita ou muito pouco ou nada é feito de concreto. Quando lemos artigos de alguns "estudiosos" da Educação ou assistimos a programas de televisão que abordam o tema em forma de notícias, debates, conferências, temos a sensação de que, de forma muito bem articulada esses "arquitetos da palavra" criam fórmulas e soluções mirabolantes para um problema tão complexo que chegamos a duvidar de que se trata do Brasil. O modelo a que se referem não condiz com a nossa realidade, são simplistas demais a ponto de relegarem o problema a uma segunda instância, tentando de forma velada, impor a culpa do caos da Educação aos seus "legítimos" culpados (os professores), como se isso fosse possível. Não estou eximindo a totalidade da culpa dos ombros dos professores, é óbvio que, como em qualquer outra profissão, temos bons e maus profissionais. Em termos de Educação, não basta apenas conhecer a "teoria", é necessário que se busque na prática, subsídios para endossar as tais teorias, caso contrário, surgirão vários estudos, vários artigos trazendo uma vasta bibliografia, porém, totalmente vagos e imprecisos. Muito se tem falado em transformar a escola pública em uma instituição de sucesso. Algumas medidas até já foram adotadas, a mais recente, a escola de tempo integral. Resultados? Aquém do esperado. Daí enfatizar a idéia de que a aplicação da teoria sem planejamento, é insuficiente e nascerá fadada ao fracasso. Não basta criar soluções no âmbito da teoria, há que se conhecer as possibilidades de viabilizá-las na prática. O contexto é heterogêneo, portanto, as realidades diferem de escola para escola, de região para região, de Estado para Estado. Apesar de alguns problemas serem constantes em qualquer lugar, o que difere são os níveis, os índices de ocorrências. A violência, as drogas, o déficit de aprendizagem, a baixa auto-estima, a ética, a cidadania etc., tudo pode ser avaliado, estudado e servir de mote para a criação de soluções viáveis. O que torna-se inadmissível é saber que tais soluções partem de pessoas que apenas se debruçaram sobre uma bibliografia, extraíram as idéias principais e elaboraram o "plano salvador da pátria" sem que ao menos tenham pisado recentemente em uma sala de aula, sem que sequer conheçam in loco as agruras pelas quais passam os professores, os diretores e funcionários das escolas públicas, principalmente as mais carentes, as de periferia. Vislumbrar soluções para problemas que estão a léguas de distância de nós é simples, é fácil. Difícil é sentir de perto o toque, o cheiro da realidade. Bibliografias e dados estáticos podem mostrar isso teoricamente, mas não substituem a prática. Nosso sistema educacional precisa de mudanças urgentes. Não basta apenas falar, a hora é de ação. Quero crer que ainda teremos uma escola eficiente, com alunos motivados e professores bem remunerados. Quero crer ainda que os políticos do nosso país tratarão desse tema com mais carinho e dedicação, não apenas porque este lhes proporcionam vantagens nas urnas, mas porque uma nação só será realmente uma nação progressista se houver um investimento maciço nesta área.

QUAL A FUNÇÃO DO PROFESSOR?

Este texto, de minha autoria, foi enviado ao site http://www.reescrevendoaeducacao.com.br - Fórum comentando o artigo de Gustavo Iochpe - Assunto: O Analfabetismo Funcional - Questão: Qual a função do professor? - Sáb Mai 20, 2006 5:29 pm.

A real função do professor deveria ser a de ensinar, transmitir conhecimentos, preparar o aluno para a vida propiciando-lhe mecanismos que o façam pensar, fazer considerações e, de forma inteligente, escolher o melhor caminho a ser seguido. Porém, a realidade é outra, ensinar é algo que fica relegado a um segundo plano. Dentre as muitas funções do professor está a de babá, psicólogo, pedagogo, terapeuta, amigo e, não obstante, a de pais. Ensinar para quê? Basta que se diga apenas que não há crianças fora da escola e que o governo, dessa forma, cumpre a sua "missão". Infelizmente o analfabetismo funcional é uma realidade e nós como educadores devemos lamentar e ficar apenas observando como meros espectadores ou nos unirmos e tomarmos uma atitude. Diagnosticar o problema do analfabetismo nas primeiras séries torna-se mister para uma virada, qual seja, mudanças radicais no método, na forma de alfabetizar, na forma de avaliar, enfim, mudança é a palavra de ordem. Devemos experimentar sempre até atingirmos o resultado desejado, sem, é claro, desconsiderar que não basta alfabetizar, devemos ter em mente que a alfabetização vai muito além do "saber ler e escrever": o aluno deverá "entender" o que está escrito e o que está sendo lido. Para isso, além da mobilização dos professores/educadores, precisamos que nossos governantes foquem a Educação e criem medidas mais efetivas. Muito se fala em "melhorar a educação" do nosso país, mas pouco se faz de efetivo. No discurso, falar em criar esta ou aquela medida para tornar a educação do país um "modelo" de sucesso, é lindo. Na prática, é apenas política, já que a educação sempre é um meio de fazer render bom frutos nas urnas. Também não acredito em modelos importados: nem sempre o que é bom para um determinado país, dará certo aqui no Brasil: há que se considerar a realidade, o sistema de governo e as condições sócio-política-econômicas de cada país. Penso que, "os detentores dos saberes" da Educação, antes de se limitarem a apenas debruçarem-se em cima de uma vasta bibliografia e inúmeros dados estatísticos sobre Educação e, com todo esse cabedal de informações, impor este ou aquele modelo como sendo o "melhor", "o mais eficiente", deveriam entrar numa sala de aula, procurar verificar in loco as dificuldades enfrentadas pelas escolas (direção, corpo docente, funcionários). Eu convido.
O sistema educacional brasileiro é falho, mas, como em tudo aquilo que não dá resultado há que se achar um culpado e, é óbvio que o professor está mais à mão: a culpa é do professor! Acredito que estes e outros conceitos devam ser repensados.

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

"Creio que a grande tarefa do professor (de Língua Portuguesa) é transformar o aluno em poliglota na sua própria língua. Ele não deve ficar circunscrito nem à língua da rua, nem à língua dos grandes escritores, mas ele deve saber utilizar a variedade de língua como ele deve saber utilizar a variedade de roupa, dependendo da natureza da festa para a qual ele é convidado." (Evanildo Cavalcante Bechara)

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O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

Silvana Maria Moreli

É extremamente preocupante o quadro que se delineia diante dos nossos olhos, não só com relação ao ensino de Língua Portuguesa no Brasil, como também com relação ao ensino num contexto mais amplo. A análise estatística de dados pertinentes à educação no Brasil traz à tona informações alarmantes, como por exemplo, o baixo índice de aprendizagem por parte dos alunos. São evidências de um ensino capenga, calcado em moldes defasados e que se encontra totalmente perdido, navegando a esmo sem um caminho traçado ou uma meta a alcançar. São tantas indefinições nesse âmbito que chega-se a pensar que a ignorância é um mal que não pode ser completamente extinto, haja vista a necessidade política de se manipular as pessoas em benefício próprio. Logo, é muito mais fácil usar desse artifício se o nível cultural dessas pessoas for nulo (ou quase isso).

Estatisticamente, se analisarmos algumas avaliações da UNESCO, veremos que os resultados são catastróficos. A ONU, em parceria com a UNESCO, num processo de organização para avaliar a qualidade de vida dos povos, criaram índices de avaliação, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). E foi em 2000 que o Brasil foi escolhido para ser avaliado, sem aviso prévio ao Ministério da Educação e foi classificado em último lugar dentre os 31 países participantes. Alegou-se na época que o mau resultado ocorrera pelo fato de que os alunos avaliados eram da escola pública e os melhores alunos, os mais eficientes, concentravam-se nas escolas particulares. Infelizmente, em virtude do Brasil ser um país cuja distribuição de renda é completamente comprometida, a repercussão dessa avaliação atingiu um alto índice de indignação.

Em 2001 uma nova avaliação foi feita e o Brasil continuou em último lugar. Na prova de leitura aplicada ficou à frente de quatro nações apenas: Macedônia, Indonésia, Albânia e Peru. A Finlândia, o Canadá e a Nova Zelândia obtiveram as maiores médias. Em Matemática e Ciências, os melhores rendimentos foram de Hong Kong, Japão e Coréia do Sul.

Em 2003, uma outra avaliação foi aplicada e dessa vez houve uma irrisória melhora e o Brasil se colocou em 37º lugar em Leitura e e em penúltimo lugar em Matemática e Ciências, o que na média das três áreas o país ficou em penúltimo lugar, na frente apenas do Peru. E vale ressaltar que os testes foram aplicados em crianças com 15 anos de idade em 41 países e não somente em escolas públicas, o que demonstra quão grande é o rombo ou como as coisas vão mal.

Para Marcos Bagno, doutor em Lingüística da USP, as notas baixas no Pisa são resultado da maneira equivocada com que a escola encara o ensino de Língua Portuguesa: "Pesquisas apontam que o grande foco do ensino de língua portuguesa está na gramática, pois a maior parte dos professores dedica setenta por cento de suas aulas às normas, quando a ênfase deveria ser na leitura e na escrita".

Segundo Cláudio de Moura Castro, economista e consultor em educação, os dados do Pisa são prova de que as escolas estão ensinando muitas coisas, mas não o essencial: o domínio da linguagem. "Das mil coisas e conteúdos que a escola faz ou tenta fazer, o Pisa está nos mostrando que ela se esquece da mais essencial: dar ao aluno o domínio da linguagem. Se fosse necessário gerar um slogan para todas as escolas de todos os níveis, esse seria: só há uma prioridade na escola brasileira: ensinar a ler e entender o que está escrito".

Para Nelio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP e responsável pela coordenação da área de Ciências do Pisa, as questões, discursivas e de múltipla escolha, são elaboradas com a ajuda dos países participantes. O exame, portanto, faz um diagnóstico significativo da educação brasileira. "Os testes foram feitos por alunos de escolas públicas e particulares de todos os cantos do Brasil, de Norte a Sul, de todas as classes sociais, o que torna o Pisa um indicador preciso de nosso sistema educacional. (...) Os exames nacionais, como o Enem e o Saeb, apresentam falhas estruturais, pois se baseiam em questões de múltipla escolha, que praticamente não permitem que o aluno tire nota zero."

O fracasso da educação no Brasil está estampado na mídia constantemente, mas emerge com maior veemência quando um teste internacional como esse é aplicado e o resultado alcançado é lamentável, para não dizer dramático. À lista de causas para o mau desempenho dos alunos soma-se além da pobreza, o baixo salário do professor e a falta de qualificação do mesmo, a baixa escolaridade dos pais - estudantes com desempenho muito crítico normalmente são criados por adultos que nunca estudaram ou cursaram apenas o ensino fundamental (1ª a 4ª série). Além disso, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registra que uma criança brasileira entre 7 e 14 anos, filha de mãe com baixa escolaridade tem onze vezes menos chances de freqüentar a escola que uma criança filha de mãe com alta escolaridade. E, outra causa, não menos importante do que as demais, refere-se ao trabalho infantil que acaba prejudicando o aprendizado, bem como gerando grandes índices de evasão escolar.

A bola da vez é a alfabetização que aparece como destaque negativo, mas, nos últimos tempos, a Matemática e a capacidade de leitura também obtiveram resultados vexatórios nesse tipo de exame internacional. É no mínimo preocupante e causa indignação, saber que o Brasil ocupa uma colocação tão lastimável no ranking mundial da educação. Isso mostra nossa incapacidade de oferecer uma educação fundamental de qualidade para a maioria das pessoas, mostra a falta de vontade política dos nossos governantes, mostra como a situação do ensino brasileiro encontra-se maquiada - a maquiagem cobre superficialmente as imperfeições, mas não consegue exterminá-las. Não se consegue oferecer salários dignos, não se consegue dar continuidade em programas de qualificação profissional, não se consegue colocar em prática projetos que vislumbrem uma melhoria na qualidade do ensino, não se consegue criar condições satisfatórias para uma educação de qualidade. Toda essa negatividade leva a crer que o fator pedagógico está intrinsicamente ligado ao social e só haverá solução plena quando ambos forem repensados e trabalhados com afinco para a obtenção de melhores resultados.

No Brasil, fala-se muito em alfabetização e pouco (ou nada) se tem feito de concreto para melhorá-la, talvez nem mesmo o básico. Acredita-se que para proporcionar um ensino de qualidade às crianças de camadas mais humildes da sociedade, seja necessário abolir a demagogia e agir de forma concreta no sentido de criar oportunidades. É preciso repensar a aprovação automática, a progressão continuada - um aluno que não sabe ler, escrever e contar nas primeiras séries não deve atingir séries mais elevadas; ele mesmo se sentirá deslocado, não produzirá e, conseqüentemente será desmotivado a aprender. Isso é exclusão. Mascarar o índice de repetência dos alunos em prol da conquista de verbas internacionais para a Educação, isso tem outro nome.

Se não houver essa conscientização, o dinheiro público continuará a sumir dos cofres por meio das mãos de políticos corruptos que, às vésperas das eleições constróem algumas creches e escolas para demonstrar a dimensão astronômica da preocupação dos mesmos com a educação. Falta brio, falta decência, falta comprometimento. Sabe-se, porém, que qualquer mudança nessa área corresponde a uma trajetória árdua e lenta, uma vez que nada muda do dia para a noite e é, sobretudo, necessário que haja investimentos e trabalho - muito trabalho.

Com relação ao ensino da Língua Portuguesa, o professor Evanildo Cavalcante Bechara nos diz que o português está entregue à própria sorte e uma das conseqüências é a falta de um vocabulário mais refinado por parte do professor. De modo geral, ele não tem uma boa leitura literária e, na sala de aula, ao invés de usar textos literários, dá preferência aos textos jornalísticos. Não que estes não sejam importantes ou não devam ser colocados para os alunos, porém, o texto jornalístico "rouba" dos alunos a "oportunidade de alargar seus horizontes dentro da própria língua", uma vez que não apresentam metáforas, metonímias ou comparações. Sendo assim, o aluno fica desarmado diante de um texto literário e não consegue lê-lo ou até mesmo interpretá-lo.

O Pisa indica que no Brasil ocorre um decréscimo significativo dos índices de domínio de competências básicas como por exeplo, produzir seus próprios textos e/ou estabelecer relações lógicas entre elementos de sentido presentes em vários espaços narrativos, ou seja, nossos alunos estão tornando-se "analfabetos funcionais".

A complexidade do problema concentra-se no fato de que o aprendizado do português deveria ocorrer no ensino fundamental. Reforça-se a idéia de que o ensino fundamental, os primeiros anos escolares, são vitais para a formação do aluno. Estes servem de alicerce para embasar o saber e o conhecimento. Acredita-se que medidas paliativas, nessa altura do campeonato, não surtam o efeito desejado. Há que se estabelecer medidas mais drásticas, do tipo que ataquem os problemas pelas raízes e criem mecanismos que consigam dar à Educação a importância e o valor que lhe são de direito.

Eu (ainda) acredito na Educação e espero que a mesma não seja apenas uma palavra de efeito, um tema para discursos inflamados de políticos que a utilizam como recurso básico para impressionar os eleitores, vencer nas urnas e depois, guardá-la para as próximas eleições ou usá-la, de acordo com a circunstância e necessidade.

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domingo, abril 29, 2007

EE Professora Maria José Maia de Toledo - Jundiaí - SP.

Que tal um Revival? Foi em fevereiro deste ano, nos dias 21, 22 e 23, que nós, professores da EE Profa. Maria José Maia de Toledo, juntamente com o grupo gestor, fizemos o Planejamento para o corrente ano. Num clima bem descontraído, mas de muito trabalho, foram traçadas as metas, os objetivos para o ano que então se iniciava.
Alguns momentos desse encontro foram registrados com fotos, as quais compartilho nesse espaço.


Eu e o professor Adelino Zonho durante uma Dinâmica de Grupo.
O Professor Adelino não pertence mais ao grupo de professores da EE Profa. Maria José Maia de Toledo. O mesmo foi aprovado num concurso e assumiu, a partir desse mês, a função de Coordenador Pedagógico em outra Unidade de Ensino de Jundiaí. Desejo a ele, felicidades e muito sucesso nessa nova etapa de sua vida profissional.




Uma vista parcial da sala onde foram realizadas as reuniões do Planejamento.






Esta é a equipe docente da EE Professora Maria José Maia de Toledo - Jundiaí - SP.
Alguns já não mais fazem parte da equipe, porém outros ingressaram após o Planejamento.




Mais uma foto do corpo docente da EE Professora Maria José Maia de Toledo e a Diretora da escola, Vera Lúcia Pelliciari, durante um tour pelas dependências da escola.







Coffe Break - Pausa para repor as energias e dar continuidade aos trabalhos!





Lembranças boas que ficarão para sempre em minha memória!





















_________
Continuando o Revival - conforme prometido, estou postando algumas fotos da  apresentação dos alunos  durante a Feira Científico-Cultural do ano passado: Projeto MPB X HIP-HOP.

Dia 22 de Abril - DIA DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL

Há algum tempo fiz esse poema e, somente agora, resolvi torná-lo público. É uma homenagem ao nosso país que, apesar dos altos e baixos, nos mantem cheios de esperança e orgulho.


CANÇÃO DO EXÍLIO
Silvana Maria Moreli
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Se eu pudesse cantar o meu país e,
Se para isso Deus tivesse me provido do dom da poesia,
Da música, da voz...
Com certeza eu entoaria uma melodia
Que enaltecesse suas belezas naturais,
Sua fauna, sua flora, sua gente, suas diferenças culturais.
Cantaria o clima tropical, as matas, as florestas,
As praias, as montanhas, o turismo;
A beleza da mulher brasileira, seu exotismo;
O povo que improvisa, o folclore e as festas;
A maneira peculiar de se falar a mesma língua
De forma tão diferente...
Ah! O sotaque dessa minha gente!
Cantaria o índio - povo valente, povo guerreiro;
Cantaria o negro, o branco,
O amarelo, o mulato...
Cantaria a mistura de raças que deu origem
Ao que hoje chamamos "bravo povo brasileiro"!
Cantaria o que é bem nosso - "paixão nacional":
- Futebol e Carnaval!
Cantaria os ídolos que dão "Olé":
- Nosso inigualável Pelé!
Cantaria a música que cruza fronteiras e é um poema:
- Nossa "Garota de Ipanema"!
E aquele alguém que já 'partiu' e deixou uma lembrança tão amena:
- Nosso inesquecível "Airton Sena".
E a música ainda, há tanto para cantar:
- Vinicius, Caetano, Gal, Betania e Gil...
Como é "grande" esse meu Brasil!
É claro que tem defeitos, esse meu amado país,
Mas quem não os tem?
Problemas? São infinitos, não se podem enumerar:
Político, econômico e social (melhor não citar)!
Mas também tem a garra e a esperança,
(a fé e o sorriso da criança) -
Desse povo que luta todo dia e não esmorece.
Povo otimista, que trabalha e não entristece.
A espera de um dia melhor que está por vir.
E virá, se Deus assim o permitir!
A cabeça fervilha, há muito ainda por cantar (o Brasil é tão rico!),
As idéias vão brotando e a memória insiste em lembrar
Que ainda há muito por cantar...
Oh! Meu Deus por que não tenho o dom da música?
Por que é tão difícil sintetizar um sentimento?
Eu sei que agora Deus escuta meu lamento,
E talvez, por certo, esteja me incluindo em algum plano
E me presenteie no futuro - (já que não é nato),
com aquilo que almejo: talento!
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ESTÁ-SE EM ÊXTASE... Ou em Ecstasy!

- DIGA NÃO ÀS DROGAS - DIGA SIM À VIDA - DIGA NÃO ÀS DROGAS -
ESTÁ-SE EM ÊXTASE...
Ou em Ecstasy!

Silvana M. Moreli
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Agora, não mais seremos eu ou você – seremos nós.
Somos unos – atados num laço invisível, forte e indissolúvel.
Fizemos um pacto de vida e de morte - nada nem ninguém poderá nos separar;
Viverá e morrerá por mim.
Nos entrelaçaremos num balé de corpo e mente;
Sons inaudíveis invadirão seu cérebro;
Farão com que você cante e grite e chore.

Seu corpo ficará gélido, os batimentos cardíacos, desritmados,
Sua respiração, entrecortada, sua visão, escarlate.
Um misto de prazer e angústia se apossará da sua alma;
E, estando comigo, sentirá saudades de mim.

Sua mente não conseguirá encadear um só raciocínio,
Irá ao ápice da loucura velozmente,
E descerá à tênue consciência vagarosamente.
Delírio e realidade se misturarão freneticamente.

Abandonará seu corpo e me procurará sofregamente,
Num desejo ávido de me possuir, de alcançar o inatingível.
Talvez até lute contra essa obsessão,
mas quando isso ocorrer estarei entranhado em seu corpo,
Como parasita que se agarra ao hospedeiro para sugar-lhe as forças:
Nada em sua vida terá sentido sem mim.
Sentirá uma necessidade doentia de que eu esteja por perto;
Pagará qualquer preço para estar comigo.
Se por algum motivo estiver privada da minha presença,
Ficará evidente todo fascínio que exerço sobre você;
Sua boca ficará seca e uma lágrima rolará dos seus olhos;
O sangue fugirá da sua face e sua tez pálida denotará
Todo sofrimento pela minha ausência.
Se agitará com irritabilidade incontrolável;
Como incontrolável será o tremor da sua carne.
Estará débil e emocionalmente fragilizada.
Não encontrará equilíbrio para o corpo e para a mente.
Cairá numa profunda depressão,
Daquelas que se perde a fome, o sono e o gosto pela vida.
Serei eu a sua vida, serei eu o seu vício;
Serei eu o ar que respira,
Serei eu o seu corpo, sua mente, sua alma.

Não conseguirá amar ninguém senão a mim.
Devotará-me uma subserviência de escravo,
E quando unidos estivermos e você saciada de prazer,
Se entregar languidamente ao meu domínio,
Te possuirei com volúpia, com voracidade...
E nós dois irmanados numa excitação sem limites,
Percorreremos caminhos sombrios, misteriosos, paradisíacos, fascinantes...
Esses caminhos a levarão à minha identidade – tarde demais:
E assim será você – pobre mortal;
E assim serei eu – puro êxtase! Puro ecstasy!

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- DIGA NÃO ÀS DROGAS - DIGA SIM À VIDA - DIGA NÃO ÀS DROGAS -

ADORNOS, FITAS E BABADOS

ADORNOS, FITAS E BABADOS
Silvana Maria Moreli

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Eram dois Carlos. Iguais no nome e na idade. Diferentes na sorte.
O primeiro nascera sem qualquer adorno, fitas e babados. Viera ao mundo no interior de uma viatura policial. Sua mãe saíra de casa às pressas para tentar impedir que seu marido participasse daquele assalto. Temia pela vida dele, temia por ela própria e pela criança que estava esperando. Chegara tarde ao banco. A polícia já havia desbaratado a quadrilha e o saldo desta operação fora cinco integrantes presos, três feridos e um morto. Seu marido jazia no chão, inerte com três tiros na cabeça. Dera um grito de horror, de medo, de angústia, de desesperança que ecoou no ar como um pedido de ajuda. Policiais que estavam por perto socorreram-na. Estava abalada emocionalmente e já sentindo as dores no parto. Os policiais fizeram o possível, mas o trânsito os impediram de chegar até o hospital e a criança nascera ali mesmo, no banco de trás da viatura policial, sem qualquer cuidado, sem médicos e enfermeiras, sem adornos, fitas e babados.

O segundo Carlos nascera como haviam programado os médicos e seus pais. Nascera numa linda sexta-feira, de muito sol. Viera envolto em muitos adornos, fitas e babados. Sua mãe não teve outra preocupação durante a gravidez a não ser cuidar da decoração do seu quarto e de seu enxoval. O pai viera do exterior para filmar o parto. Uma grande festa fora preparada, regada a muito uísque importado e charutos cubanos. Membros da família e amigos chegavam a todo momento à mansão trazendo presentes para o pequeno e já ilustre Carlos.
O primeiro recebera o nome de Carlos Alberto da Silva. Carlos Alberto era o nome do protagonista de uma novela que a mãe assistira há muito tempo, mas que não se esquecera jamais. Seria Carlos Alberto e, quisera Deus, tivesse a mesma sorte do personagem: ser honesto sempre, em qualquer situação, trabalhar e ganhar muito dinheiro, encontrar um grande amor, casar-se e ter filhos, ser feliz. Era isso o que a mãe desejava àquela criaturinha indefesa. Mas, morando ali na favela, com toda aquela falta de recursos, toda aquela miséria e toda aquela carência, pensava que talvez a sorte de Carlos Alberto fosse outra, bem diferente da vivida pelo personagem da novela. Talvez o garoto se envolvesse com pequenos crimes, com drogas, com traficantes. Talvez fosse preso, enviado para alguma dessas Instituições para recuperação de menores e morto numa dessas rebeliões onde queimam-se colchões, torturam-se os reféns e a vida vale muito pouco ou nada. Não queria mais pensar nisso. Afastara os pensamentos tortos e começara a rezar.
O segundo Carlos, recebera na pia batismal o nome de seu avô, Carlos Eduardo Albuquerque de Mendonça Neto. Fora assim decidido por tratar-se de um costume familiar. Os pais já traçavam o destino do filho. Seria feliz certamente, teria de tudo, estudaria nas melhores escolas, teria os melhores amigos, todos eles com aqueles sobrenomes imponentes de quem já nasce cercado de adornos, fitas e babados. E, quando menos se esperasse, o pequeno Carlos quadruplicaria os bens da família. Sempre fora dessa maneira. Não havia muito o que planejar - seu futuro já estava traçado - pensavam os pais.
Os dois Carlos crescem. Contam agora dez anos de idade. Ambos nasceram no mesmo dia; no dia em que Carlos Alberto perdia o pai durante um assalto; numa sexta-feira ensolarada em que o pai de Carlos Eduardo chegava do exterior para presenciar seu nascimento. Ambos nascem Carlos mas ambos vivem Carlos diferentes.
Enquanto Carlos Eduardo mantém uma rotina atribulada entre a escola e vários outros cursos e esportes, Carlos Alberto não freqüenta a escola, vende chiclete nos semáforos para ajudar sua mãe e convive com a violência no morro; tiroteios e balas perdidas ou até mesmo com destino certo.
Carlos Eduardo trilha por uma educação que, conforme seus pais, o levará a ser um grande homem. Carlos Alberto trilha pela linha de fogo dos traficantes e não sabe se chegará, sequer, a ser um homem.
Carlos Eduardo diz: “Obrigado, senhor...”; Carlos Alberto diz: “Valeu, tio...”.
Carlos Eduardo não sabe o que é passar fome. Carlos Alberto não sabe o que é comer bem.
Carlos Eduardo usa roupas de grife. Carlos Alberto usa roupas rotas doadas pelas Instituições de Caridade.
Apenas uma avenida separa o condomínio de luxo onde vive Carlos Eduardo do morro íngreme onde mora Carlos Alberto. Um não sabe da existência do outro, mas, a vida se encarregará de delinear o destino de ambos. Com adornos ou sem adornos, com fitas ou sem fitas, com babados ou sem babados. E, como destino não é ciência exata, ambos correm os riscos de se viver. Ser na vida Carlos iguais ou Carlos diferentes, mas ser Carlos.
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IN FARTO

IN FARTO
Silvana Maria Moreli
*** (Respeite os direitos autorais. Se for utilizar algum texto desse blog, parcial ou totalmente, não se esqueça dos créditos. Obrigada!) ***

Ainda sinto-me debilitado essa manhã. Minhas forças estão se esvaindo.
Há décadas me levanto quando o dia teima em chegar e a noite reluta em partir. Sempre gostei de acordar bem cedo, pois somente assim tenho a ilusória sensação de estar prolongando o meu dia. Por essa mesma razão, vou dormir bem tarde, para poder aproveitar cada minuto. Dormir, para mim, não é tarefa fácil. Perde-se muito tempo enquanto se dorme. E, não queiram me convencer de que "o organismo humano necessita de seis a oito horas de sono para se recompor". Balelas! Dormir é improdutivo.
Preparo meu café da manhã e vou ingerindo-o rapidamente enquando passo os olhos ávidos e ligeiros pelas principais manchetes do jornal e acabo me deparando com as letras garrafais da página econômica, que é o que sobremaneira me interessa: cotações do dólar, taxas de juros, cotações da Bolsa de Valores, a economia brasileira, a economia mundial etc. Tais assuntos exercem verdadeiro fascínio sobre mim, impregnam-me, dão-me um prazer quase doentio. É uma gama enorme de informções para absorver em pouco tempo. E pensar que há pessoas que raramente lêem um jornal e, se o fazem, é para ler horóscopo, fofocas do mundo artístico e outras futilidades. Eu não! Sou ocupado demais para perder meu tempo com banalidades. Estar bem informado é primordial para o bom desempenho do meu trabalho, porém, retenho apenas o que me convém.
Raramente vejo meus empregados devido aos meus horários. Prefiro assim. Saio bem cedo de casa, mesmo sabendo que ficarei horas preso no trânsito. O som das buzinas penetra meu cérebro e destrói impiedosamente o meu humor. Aliado ao som das buzinas está o som das batidas no vidro do carro. São crianças maltrapilhas que querem vender chicletes, chocolates, água, refrigerante etc. Mantenho o vidro fechado - essa movimentação me estressa. Aproveito esse fatídico episódio e ligo para minha secretária para repassarmos os compromissos do dia. Agenda lotada como sempre. São tantos os compromissos, reuniões, visitas, viagens, fechamento de contratos, clientes, fornecedores, assinaturas, telefonemas indo e vindo... Pego-me com a mão atolada na buzina. E o relógio, esse meu inimigo mortal, trava uma luta psicológica comigo. Não posso medir forças com ele, já que minhas armas são ineficientes para o combate. Aceito portanto, com resignação, mas sob protesto, minha impotência ante seu poder.
Na empresa, nada se move sem o meu consentimento. Não permito. Sempre estou atento a tudo e a todos. Nada passa despercebido. Sei que muitos me acham centralizador. Eu me acho eficiente.
Não tenho o hábito de almoçar, isso é pura perda de tempo. O tempo do meu almoço pode ser fundamental para a concretização de um ótimo negócio. Um lanche rápido ou uma fruta é mais do que suficiente. Comer é vício. Fome é psicológico. Eventualmente almoço ou janto com um cliente e, me disponho até mesmo a acompanhá-lo a um "happy hour" ou uma "badalação noturna", obviamente se eu puder tirar algum proveito da situação. Afinal, o lucro é o que importa. Importa estar no topo. A empresa cresce. Eu sou a empresa. Logo, nós crescemos!
Nunca me queixei de trabalhar, muito pelo contrário, amo meu trabalho, aliás, "meu trabalho" é tudo para mim. Meus amigos dizem que sou um "workaholic" (viciado em trabalho). Amigos! Ora, que amigos? Refiro-me a alguns "colegas" de trabalho que num momento de rara descontração fazem observações vis como essa. Com relativa constância, vejo funcionários cochichando pelos cantos quando eu passo e, vez por outra, ouço comentários do tipo: "Ele é sério demais, sisudo e antipático!"; "Talvez seja por isso que nunca tenha se casado. Que mulher suportaria viver com um homem tão egoísta?". Nunca me ative a esses burburinhos de escritório. Nunca tive tempo para tal.
Férias? Nem pensar! Jamais conseguiria descansar ou me desligar dos meus afazeres em função de um capricho. Férias é para quem não tem o que fazer. É preciso trabalhar para se sentir vivo, desenvolver projetos para se sentir capaz, ter sucesso para se ser.
Foi por meio do meu trabalho que realizei meus sonhos e me realizei. Trabalhando e realizando, realizando e querendo mais, querendo e conquistando, conquistando , conquistando... Não, não me peçam para descrever qual o sabor da conquista, pois não saberia expressar corretamente com palavras o imenso prazer que um boa conquista proporciona.
Hoje tenho o que mais almejei na vida: dinheiro e sucesso e, acabo de travar uma nova luta, um novo desafio para a minha vida. O relógio, meu inimigo mortal, já não me assusta tanto. Aqui, o tempo é subjetivo e não é contado por horas, minutos, segundos... Não sei que horas são e qual o dia da semana. Minha batalha agora é com as paredes pálidas deste quarto, com o som que já não é tão ensurdecedor quanto o das buzinas, é o som do silêncio do lugar quebrado pelo som entediante que vem do aparelho ligado ao meu coração.
A porta se abre. Tenho uma visão: é um anjo trajando branco da cabeça aos pés. Será que morri? Não! É apenas a enfermeira que veio monitorar os aparelhos e me dar mais uma daquelas injeções. Infarto! Que ironia. E eu, justamente eu, aqui, imobilizado.
O médico que me atendeu fez uma série de recomendações e restrições, as quais, segundo ele, deverei seguir à risca.
Imaginem vocês se vou me intimidar... De forma alguma! Já tenho planos concretos para quando sair daqui: vou trabalhar muito e triplicar o meu patrimônio.
Se me perguntarem para quem deixarei meus bens quando morrer, responderei seguramente que eu não vou morrer. Não tenho tempo para isso. Estarei ocupado demais quando a morte chegar!
Nesse momento um sono incontrolável se apossa de mim... minhas forças estão se esvain...

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