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terça-feira, janeiro 19, 2010

19 DE JANEIRO


Os caminhos cruzados de Elis Regina e Nara Leão
Monica Ramalho

Ilustração de André Brito
O clima entre as estrelas era hostil por causa de Elis, a quem Nara admirava



Nara Leão nasceu no dia 19 de janeiro de 1942. Elis Regina morreu no dia 19 de janeiro de 1982. Elis, que implicou muito com a musa da bossa nova depois que ela aderiu ao iê-iê-iê da Jovem Guarda, teceu elogios à rival numa entrevista ao jornal Última Hora em... 19 de janeiro de 1976. Coincidências à parte, as vidas de Elis e Nara tropeçaram em pedras semelhantes. Uma delas tinha nome e sobrenome: Ronaldo Bôscoli.

O jornalista, letrista e produtor Bôscoli havia namorado Nara na adolescência. Foi noivo da cantora entre o final dos anos 50 e o início dos 60, na época em que o apartamento da família Lofêgo Leão, na avenida Atlântica, servia de ponto de encontro dos entusiastas da bossa nova. Quase todos bem nascidos e bem criados na Zona Sul carioca, como Roberto Menescal, Carlinhos Lyra, Luís Carlos Vinhas, Sylvia Telles, Chico Feitosa e Luizinho Eça, e o baiano João Gilberto.

O relacionamento de Nara e Bôscoli foi por água abaixo em 1961, quando Maysa anunciou à imprensa, sem o conhecimento do jornalista, que se casaria com ele. É certo que os dois dormiram juntos na turnê que haviam acabado de fazer por Argentina, Uruguai e Chile, mas a história do casamento foi invenção de Maysa. E Nara rompeu com Bôscoli de uma maneira enérgica: não atendia nem os telefonemas do compositor, em quem seu pai, o severo Jairo Leão, depositava um bocado de confiança. 

Pois bem. Elis Regina e Ronaldo Bôscoli casaram-se no civil no dia 5 de dezembro de 1967. Em comparação à idade de Bôscoli, Elis era ainda mais nova do que Nara: 16 anos contra 13 de diferença. O casamento durou cinco anos, entre separações, reconciliações e o nascimento do primogênito João Marcelo Bôscoli, hoje dono da gravadora Trama. Bôscoli, o Ronaldo, só teria novamente acesso à Nara Leão anos mais tarde. 

O jornalista e compositor Nelson Motta foi testemunha da rixa entre Elis e Nara. "A Elis tinha uma grande voz. Nara Leão era o contrário: tinha poucos recursos vocais, mas usava muito bem a inteligência. Era hostilizada pela Elis por causa da pequena voz, mas reunia os melhores repertórios e trabalhou muito pela música brasileira. Já a Nara vivia dizendo que Elis era uma grande cantora", revela.

Até a imprensa sabia que Elis detestava Nara. As duas foram convidadas para estrelar a série ‘As grandes rivalidades’, publicada na revista Manchete. O crítico de música e jornalista Sérgio Cabral lembra esse episódio em ‘Nara Leão, uma biografia’, lançada pela Lumiar. "O clima era de hostilidade, principalmente por parte de Elis Regina", afirma Cabral no livro. 

E continua, linhas abaixo: "Bem humorada, Nara até brincou com a rival na hora das fotografias. ‘Como é? Estão dizendo por aí que não queremos posar juntas. Podemos ou não?’ Elis nada respondeu e, à medida que as fotos eram batidas, foi perdendo a paciência, até que estourou: ‘Vou embora porque não gosto de Nara Leão’. Em seguida, Carlos Marques entrevistou as duas isoladamente". 

Sérgio Cabral destaca a agressividade de Elis para com Nara. "Elis Regina foi contundente: ‘Eu não tinha nada contra a moça Nara Leão. Hoje eu tenho porque me irrita a sua falta de posição, dentro e fora da música popular brasileira. Ela foi a musa, durante muito tempo, mas começou gradativamente a trair cada movimento do qual participava. Iniciou na bossa nova, depois passou a cantar samba de morro, posteriormente enveredou pelas músicas de protesto e, agora, aderiu ao iê-iê-iê. Negou todos...’". 

Só a título de curiosidade, vale reproduzir o trecho da entrevista ao jornal Última Hora, de Samuel Wainer, na qual Elis aplaudia a paciência da irmã de Danuza e, portanto, cunhada de Wainer, adiantando a postura que adotaria com ela no futuro: "Eu sou esquentada. Tem gente que é calma, a Nara Leão, por exemplo, é uma pessoa que tem uma paciência histórica, sentou, esperou tudo acomodar e fez um disco certo. Aliás, ela sempre faz as coisas certas nas horas corretas e para as pessoas exatas. Eu sou guerreira e pego a metralhadora para sair atrás de quem me enche o saco".

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